
A CASA DO COLAPSO
Agora chegamos à Casa mais perturbadora de todas: A Casa do Colapso.
A Casa do Colapso é uma entidade por si só. Ela não possui um local fixo — aparece e desaparece em diferentes lugares do mundo, sempre de forma misteriosa, como se surgisse do próprio tecido da realidade. É comum encontrá-la em florestas remotas, em meio a montanhas inóspitas, ou no coração de desertos esquecidos. Seu surgimento é precedido por uma mudança drástica no ambiente ao redor, alterando quilômetros de paisagem. Uma estrada de terra emerge do nada, com cerca de três quilômetros de extensão, ladeada por árvores imensas e antigas, cujas copas se entrelaçam, formando um túnel natural. Ao longo do caminho, há postes de luz, mas apenas três funcionam, emanando uma luz amarela e fraca, como se algo estivesse errado.
No fim dessa estrada, surge a Casa: uma enorme mansão em ruínas, que parece ter sido abandonada há séculos. Suas janelas estão quebradas, o quintal é uma vasta extensão de grama morta, interrompida por dois cedros deformados e um balanço enferrujado que range ao menor sopro de vento. Ao lado, uma pequena construção que pode ter sido uma despensa ou um depósito de ferramentas, agora se encontra coberta por musgo e teias de aranha.
O mais perturbador é a estranha luz fraca que emana da Casa, como se algo vivo pulsasse em seu interior. Mesmo em ruínas, a Casa parece viva, como se estivesse esperando, chamando aqueles que ousam se aproximar.
Levinse, um dos protagonistas, é movido por uma curiosidade doentia. Ele observa a mansão com uma mistura de fascínio e medo. As rachaduras nas paredes parecem formar padrões que se mexem sutilmente quando ele desvia o olhar, e a vegetação que cobre as estruturas parece vibrar levemente, como se tivesse uma vida própria. Uma pipa amarela está presa no telhado, balançando suavemente. Todo o cenário é como um pesadelo tornado realidade. Seu estômago se revira em antecipação ao que encontrará lá dentro.
Ao entrar, a primeira coisa que se percebe é que a porta de entrada desaparece como se nunca tivesse existido. O que do lado de fora parecia uma mansão decadente se transforma. No interior, tudo é assustadoramente impecável. Um grande salão de madeira envernizada se estende diante dele, iluminado por um lustre de cristal. Não há muitos móveis, exceto um criado-mudo perto de uma janela alta, um armário de vidro cheio de taças de vinho, um cinzeiro com uma bituca ainda fumegante, e, em um canto, um piano antigo, ao lado de um sofá gasto.
No centro do salão, ergue-se uma grande escadaria, cujos degraus são esculpidos com detalhes intrincados, representando rostos e figuras grotescas que parecem segui-lo com os olhos. Quando sobe as escadas, ele chega ao corredor infinito. Este é o coração da Casa do Colapso: um corredor estreito e interminável, com portas numeradas que se estendem à vista. Cada porta tem uma pequena placa que diz "saída", mas ao entrar, os horrores que aguardam são incontáveis. Cada universo por trás de uma porta é mais estranho e distorcido que o anterior, e a realidade parece desmoronar com cada passo que Levinse dá.

Ele percebe, tarde demais, que a verdadeira natureza da Casa é o colapso — uma distorção não apenas de espaço e tempo, mas da própria sanidade. Nada é confiável. Nada é o que parece. E uma vez que se entra, a saída pode não ser mais uma opção.
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