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AS SOMBRAS DA CASA

Foto do escritor: Richer S CerqueiraRicher S Cerqueira



A Casa do Colapso, um local envolto em mistério e medo, abriga as almas perdidas daqueles que um dia atravessaram suas portas dispersas por inúmeros universos e épocas. Mais de quatrocentas almas já foram tragadas pelos sombrios corredores e quartos ocultos desta moradia sinistra, cada uma deixando para trás uma história de desventura e desespero. Algumas morreram de fome, outras, tomadas pela angústia, entregaram-se à própria morte, enquanto muitas foram devoradas pelas criaturas que rondam as sombras.


Necromancer e seu irmão Mike, tocados pela tragédia dessas almas, empenharam-se fervorosamente em uma missão para resgatar e libertar os espíritos confinados. No entanto, depararam-se com desafios imensuráveis. A principal barreira era a antiguidade da morte desses espíritos, com alguns tendo perecido há séculos. Mesmo que os restos mortais fossem encontrados, a conexão da alma ao corpo havia se perdido irremediavelmente. Tentativas de reconstituir as carcaças falharam em restaurar a essência vital que já não mais pertencia a este mundo.


Incapazes de reatar esses espíritos aos seus corpos, os irmãos resolveram extrair as almas dos quartos condenados e transportá-las para o salão principal da casa. Este ato de compaixão conferiu às almas um vislumbre de liberdade, distante dos horrores perpetuados nos recantos mais escuros da casa. O salão agora serve como um refúgio para essas sombras errantes, semi-transparentes, suas antigas vestes tingidas pela escuridão, e suas vozes murmurando conversas espectrais que ecoam pelas paredes.


Dentre essas figuras, destaca-se o ancião de vestes verdes militares e chapéu fedora, que repetidamente encena seu último e desesperado ato com um revólver Colt. Após cada encenação, ele desaparece apenas para ressurgir, continuando a vagar pelo salão ou pelos corredores. Keller, outro residente da casa, encontrou nesse espírito uma camaradagem sombria, um reflexo de sua própria inquietude e tormento.


Esta tapeçaria de almas perdidas e de atos de resgate fúteis, mas tocantes, ressoa através da Casa do Colapso, um eco de vidas outrora vividas e agora presas na teia do destino que a casa tece com seus muitos corredores e portas secretas.

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