
No ano 0018, em uma época onde os dias mal eram contados, antes que as grandes civilizações se erguessem, dois irmãos nasceram no deserto que um dia seria conhecido como Egito. Keller, o mais velho com 16 anos, e Mike, de 12, enfrentaram a devastação precoce de suas vidas ao verem toda sua família ser brutalmente assassinada durante uma invasão ao vilarejo de Mefi, sua terra natal.
Sozinhos no deserto, o calor escaldante e a noite gélida testaram sua resistência. Keller, com sua mente estratégica e forte senso de responsabilidade, tomou para si a liderança, guiando seu irmão menor em busca de segurança. Durante dias, eles caminharam sob o céu estrelado, onde Keller, sábio para sua idade, usava as constelações como guia. De dia, refugiavam-se nas sombras das montanhas ou sob árvores raras que encontravam no caminho. A morte sempre os perseguia, mas a determinação dos irmãos era imbatível.
Após uma semana, os dois finalmente chegaram ao vilarejo de Nacata, um oásis de oportunidades em meio ao deserto. Lá, começaram suas novas vidas. Com o passar dos anos, Keller e Mike se tornaram respeitados por suas habilidades artesanais e conhecimentos pouco comuns. Trabalhando com joias, eles dominavam a arte de moldar pedras preciosas em peças de rara beleza, viajando por longas distâncias para extrair minerais valiosos nas montanhas e cachoeiras. Não só eram mestres em joias, como também eram alquimistas, criando poções e remédios com o uso de ervas que curavam doenças, aliviavam dores, e até mesmo previam o destino daqueles que buscavam conselhos.
A reputação dos "Irmãos Magos de Nacata" crescia, e sua oficina atraía curiosos de todos os cantos. Havia algo de misterioso neles, algo que transcendia a simples habilidade manual e conhecimento das estrelas. Era como se as forças além do humano estivessem ao seu redor, moldando seu destino.
Um dia, um boato chegou aos ouvidos de Mike. Um viajante recém-chegado ao vilarejo possuía uma pedra rara, um cristal que brilhava como uma estrela, irradiando uma luz azulada. A curiosidade dos irmãos foi instantânea, e Keller, movido pela ambição e fascínio pelo desconhecido, não perdeu tempo. Após rastrear o viajante até uma casa de entretenimento, Keller tentou convencê-lo a vender ou, ao menos, permitir que ele examinasse a pedra. No entanto, o viajante, enigmático e cauteloso, se recusou a ceder.
A recusa não fez nada além de aumentar a obsessão de Keller. Ele e Mike, decididos a possuir o artefato, arquitetaram um plano sombrio. Naquela noite, Keller assassinou o homem enquanto Mike se desfez do corpo nas montanhas. A pedra, agora em suas mãos, se tornou o foco de sua atenção.
Durante semanas, os irmãos tentaram desvendar os segredos do cristal. Tentaram esculpir, quebrar, e até fundir o objeto, mas seus esforços eram inúteis. Frustrado, Keller, em um acesso de raiva, bateu o cristal com uma marreta de cobre. A pedra explodiu em fragmentos brilhantes, liberando uma fumaça azul fosforescente que os envolveu. A explosão marcou um ponto de virada em suas vidas.
Dez anos se passaram desde esse fatídico evento, e os irmãos ainda mantinham seu negócio de joias e alquimia. No entanto, algo estranho começou a acontecer. Enquanto todos ao redor deles envelheciam, Mike e Keller pareciam presos no tempo, suas aparências ainda jovens, como se o tempo não os tocasse. O que começou como um boato entre os aldeões logo se tornou evidente até para os próprios irmãos.
O que havia realmente acontecido quando a pedra explodiu? Seria aquela energia azulada a causa de sua aparente imortalidade? E, mais importante, que outras forças desconhecidas ainda poderiam estar à espreita, aguardando o momento certo para se revelar?

Com o passar dos anos, os irmãos Gebohris continuaram a viver nas sombras da sociedade. A cada década que passava, os rumores de que eles possuíam o segredo da vida eterna se intensificavam. A aldeia em que viviam, antes pacata e isolada, começou a questionar a natureza daqueles dois. Enquanto todos ao redor envelheciam e sucumbiam ao tempo, Keller e Mike permaneciam com a mesma aparência jovem, alimentando desconfianças e medos. Uma multidão enfurecida finalmente se reuniu diante da casa deles, convencida de que os irmãos guardavam o elixir da vida.
No entanto, antecipando esse confronto, Keller e Mike já haviam partido. Fugiram antes que as suspeitas se transformassem em algo mais perigoso, caminhando para as montanhas, prontos para mais uma vez deixar tudo para trás. Durante uma das noites em que acampavam, o assunto que pairava sobre eles era o mistério da própria existência. Afinal, por que não envelheciam? Entre várias teorias, a que fazia mais sentido envolvia a estranha pedra que haviam destruído anos atrás. Aquele cristal mágico, talvez, fosse o responsável por sua juventude eterna.
— Mas isso não faz sentido — disse Mike. — O viajante que carregava a pedra morreu. Se a pedra fosse mágica, ele não deveria ter sobrevivido?
Eles começaram a testar seus limites, e embora descobrissem que ainda podiam se machucar e sangrar, o fato de não envelhecer era inegável. Eles não eram imortais no sentido absoluto; ainda podiam morrer de ferimentos, mas pareciam congelados no tempo. Keller, o mais velho, começou a aceitar que a magia talvez fosse real. Decidiram continuar viajando pelo mundo, em busca de respostas, e, ao longo do caminho, se tornar mais poderosos.
Os séculos se passaram, e os irmãos percorreram grande parte da Europa. Eles raramente permaneciam em um lugar por muito tempo, pois era perigoso ficar em um único vilarejo ou cidade por mais de uma década, já que a juventude eterna atraía curiosidade indesejada. Contudo, em várias ocasiões, tanto Keller quanto Mike se permitiram envolver emocionalmente com as pessoas que conheciam, muitas vezes ficando por mais tempo do que deveriam. Eventualmente, precisavam partir, deixando para trás vidas e corações despedaçados.
Durante suas viagens, os irmãos acumularam vastas quantidades de conhecimento. Colecionaram livros raros e artefatos exóticos, muitos dos quais pertenciam ao mundo esotérico da época. Com o passar do tempo, o nome Gebohris se tornou uma lenda, cercado de mistérios e segredos. Muitas pessoas que cruzaram seu caminho aprenderam com eles, e outros tantos ensinaram os irmãos sobre feitiços, rituais e magias. Eles aprenderam a fortalecer seus corpos com magia, tornando-os mais resistentes a danos, embora soubessem que a morte ainda era uma possibilidade real.
Após quase mil anos de busca e aprendizado, os irmãos chegaram à Rússia. Foi em uma taverna, em uma noite fria, que Keller ouviu pela primeira vez falar de uma porta mágica. O homem que contava a história parecia absolutamente certo de que essa porta levava a outro mundo, e isso despertou a curiosidade imediata de Keller. Ele e Mike decidiram que precisavam encontrar essa porta.
Suas buscas os levaram por toda a Rússia, e, sem sucesso, os dois irmãos vagaram por anos. As pistas sobre a porta os conduziram novamente pela Europa, até que, finalmente, em uma taverna na França, conseguiram uma localização precisa: a porta estava na Noruega, nos arredores da antiga cidade de Oslo, perto de um vale remoto.
Quando chegaram ao local, encontraram uma porta solitária, sem paredes que a sustentassem, apenas um batente que parecia não pertencer àquele mundo. Do outro lado, apenas o vale e o horizonte desolado. A madeira estava desgastada pelo tempo, e inscrições misteriosas cobriam sua superfície. Keller, sem hesitar, abriu a porta, e no instante seguinte, ele e Mike foram sugados para dentro, como se uma força invisível os tivesse agarrado.
Eles caíram do céu, como se tivessem sido lançados de uma altura inimaginável. Se não fosse pela magia que dominaram ao longo dos séculos, a queda teria sido fatal. O mundo ao qual foram lançados era terrível, primitivo, um lugar onde nada parecia evoluído. As árvores eram pretas, o solo coberto por musgo e o céu sempre nublado. Ali, ficaram presos por trinta anos, vagando sem rumo, em busca de uma saída.
Finalmente, eles encontraram outra porta. No centro dela, havia a inscrição "0-G". Sem hesitar, abriram a porta e foram novamente sugados, desta vez para uma encosta rochosa em uma montanha. Seus corpos estavam feridos, mas ao tentarem usar a magia para se curar, nada aconteceu. Aquele mundo era completamente desprovido de magia. Era um lugar sombrio, onde as pessoas viviam em conflitos constantes e guerras sem sentido. Durante sua estada ali, Keller e Mike presenciaram o surgimento de uma figura religiosa que começou a dominar o lugar: um homem chamado Cristo, que logo seria adorado como uma divindade.
Após anos vagando, aprendendo os idiomas locais e tentando entender aquele mundo, eles finalmente encontraram outra pista: em uma cidade gelada chamada Leningrado, ouviram falar de uma casa cheia de segredos e poderes, com portas que levavam a mundos nunca antes explorados. Mais uma vez, seguiram as pistas, encontrando outra porta com a inscrição "0-M". Ao abri-la, foram sugados mais uma vez, mas desta vez, o destino era diferente. O novo mundo estava repleto de magia, e seus poderes, que antes pareciam adormecidos, retornaram com força total. Foi neste mundo que eles finalmente conheceram Liniquer, o ser cósmico da Casa Fantástica.
Nesse lugar, Keller encontrou algo que mudaria sua existência para sempre. Foi lá que encontrou a porta que levaria a Casa do Colapso, outro universo o universo do Errorfonte, onde mais tarde acabou absorvendo a energia cósmica daquele lugar, ele transcendeu sua condição humana e se tornou o Necromancer. Seu poder se ampliou para além do que ele havia imaginado. Já Mike, embora continuasse com sua imortalidade e tivesse adquirido novos dons, nunca absorveu a energia cósmica como seu irmão. Assim, enquanto Keller se tornava um ser de imenso poder, Mike permanecia à sombra de seu irmão, com habilidades que, apesar de poderosas, nunca se comparariam às de Keller. Dentro da Casa, Keller era invencível, pois aquele lugar se tornara seu domínio.
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